sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Ministro da Justiça. Literalmente.

Como se mede o verdadeiro caráter de um homem?

Um moribundo uma vez falou que para conhecer o verdadeiro caráter de alguma pessoa, se tem que dar poder a ela. Como ela se comportaria no alto escalão de um poder ilusório. Seria grata as pessoas que um dia a ajudaram? Trataria como igual desde o faxineiro até o presidente de qualquer país? Esqueceria-se das pessoas que o amam pelo que ele é e não pelo que ele possui? O poder meche com a cabeça de muita gente. Resistir às tentações da soberba, do dinheiro sujo e fácil, e da relutância de qualquer complexo de inferioridade que por ventura tenha também. Para mim, qualquer pessoa que tenha teoricamente algum poder nas mãos e se sobressaia das suas armadilhas, é digno. Do meu respeito. Da minha admiração. Do meu amor. E é só o amor que constrói para a eternidade, costumava dizer esse moribundo.

Um menino nascido em Itabaiana, que se tornou advogado, que gostava de escrever, tanto que se assumiu jornalista, dentre outros tantos outras funções, como a de professor de literatura do Lyceu Paraibano. Mas gostava de gente também, e sabia lidar com o poder como poucos. Foi prefeito, deputado, senador... soube filtrar as suas companhias, assumiu a liderança na Câmara dos Deputados no governo do então presidente Juscelino Kubitschek, e posteriormente a pasta da Justiça do Presidente João Goulart. Nunca aceitou ser peça de qualquer tabuleiro em esquemas sujos. Não aceitava “presentes” dos figurões. Estes que diziam que morreria pobre. Esse moribundo morreu com pouco dinheiro, mas o bastante para manter algo que é artigo de luxo na humanidade. A honra.

Quando firmei moradia em Brasília, conheci inúmeras pessoas envolvidas com política. Trabalhei na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Uma das amizades que fiz por lá foi o sobrinho de Jorge Bastos Moreno, um dos mais importantes e respeitados jornalistas políticos do país. Escreve para o jornal O Globo. Ele, uma celebridade. Muito bem relacionado, lembro que no dia anterior visitava a sua casa a presidenta Dilma Rousseff. Amigo íntimo de grandes artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento, entre outros tantos. Confesso que era um tanto arrogante, não dava muito espaço para nós, amigos de seu sobrinho. Então me aproximei e perguntei: “Você já ouviu falar em Abelardo Jurema?” Ele no mesmo momento, me olhou com uma cara de espanto e perguntou: “O ex-ministro da justiça? O que você é dele?” Quando respondi que era neto, ele se levantou do sofá e fez um discurso que me encheu os peitos de orgulho e emoção, e deixou os meus amigos presentes atônitos, pois não esperavam uma reação daquele homem que antes era tão ríspido. Não me lembro de todo o discurso, mas tem uma parte que nunca esquecerei. “O seu avô foi o maior representante da democracia que tive o prazer de conhecer. Uma pessoa íntegra, sincera como poucos. Sua inteligência e simplicidade era admirável. Se eu conversar com alguns amigos políticos, que estive com o neto de Abelardo Jurema em minha casa, falarão exatamente isso que te falo agora. Você trabalha no Senado? Então entre no gabinete dos senadores mais antigos e se apresente, que será muito bem recebido.”

Como se mede o caráter de um homem? Pelo seu legado.

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