sexta-feira, 17 de maio de 2013

Carta de despedida


           Como todos já sabem, de acordo com algum calendário Maia e com a ajuda de algum estudioso com imaginação fértil, o mundo se acabará no próximo dia vinte um de Dezembro. Então vou escrever aqui uma carta de despedida. Deixar uma mensagem para as gerações pós-apocalípticas.

          É triste ver o fim se aproximando. As coisas começam a não mais fazer sentido, os seus sonhos vão morrendo junto com a sua vontade de acreditar. A força que há dentro de todos nós fica atordoada com a impotência diante desse desfecho incrédulo da realidade. Fico aqui pensando em como está o mundo, as suas ironias, as suas intangíveis verdades, os becos obscuros de maldade, os bosques floridos da benignidade.  Será que já chegamos ao nosso destino? Foi para chegarmos até aqui que fomos criados? Na linha da evolução, estamos na ponta inicial ainda, usamos a força, nos entregamos aos nossos instintos primitivos, compactuamos com o que não queremos, não temos controle algum sobre a morte, muitas vezes vemos, mas não enxergamos, escutamos, mas não ouvimos. Não pode ser o fim. Não acredito que o ciclo da vida se encerre antes de passar do começo. Ainda não aprendemos a amar o nosso semelhante como se deve, o planeta ainda é um lugar sujo de se viver, assim não dá. Nem tivemos a chance de morar em um lugar digno da criação de Deus.

          Uma boa hora para refletir sobre o tempo que não terei com o meu filho. Não o verei  crescer, não poderei mostra-lo o mundo que eu vejo, que eu vi. Não contarei as minhas infinitas aventuras, nem pegarei uma onda ao seu lado. Esse fim não é justo. Deixarei as gargalhadas que daria junto a ele ecoarem pela eternidade de um futuro que não aconteceu. Suas lágrimas se assentariam no apoio dos meus ombros, onde o seu pranto lembraria onde mora a segurança, se o tempo assim permitisse. Ele já sentiu o nosso amor, e por mais que nossos olhos se cruzem pelo canal sublime da nossa ligação, eu precisaria dizer em um abraço que o amo mais que tudo.

          Lembrando do meu filho, vem a minha cabeça o acontecido dessa semana em Newtown, nos Estados Unidos, onde um rapaz perturbado atirou contra varias pessoas em uma escola, sendo que muitas eram crianças. Estas foram atingidas por tiros de fuzil. Quando imagino a violência que essas crianças foram mortas, eu fico na dúvida se esse prognóstico realmente tinha validade. Um dia tocaram fogo em um índio que dormia no meio da rua, outrora tiraram uma vida por causa de um cigarro. A vida não mais tem valor.

          Acho que o fim do mundo é carregado dentro de cada um de nós. Nascemos com a luz, e muitas vezes deixamos as trevas dominarem os nossos corações. Alguns lamentam por toda a fortuna que deixariam no planeta, enquanto outros já sentem saudade das pessoas que ainda não foram deixadas. Muitos desejam o fim. La no fundo. Talvez se todos morrerem ao mesmo tempo, não se pareça covarde por querer isso. Mas a verdade é que a maioria não aguenta mais viver no meio de tanta dor e sofrimento. Agente sente o cheiro pairando no ar. 

          Bom, se você está lendo esse texto agora, é por que o mundo não acabou. Então olha só, ganhamos mais uma oportunidade de virar o jogo. Comece por dar um gostoso bom dia a todos. Fé em dias melhores.

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