Como todos já sabem, de acordo
com algum calendário Maia e com a ajuda de algum estudioso com imaginação
fértil, o mundo se acabará no próximo dia vinte um de Dezembro. Então vou
escrever aqui uma carta de despedida. Deixar uma mensagem para as gerações
pós-apocalípticas.
É triste ver o fim se aproximando. As
coisas começam a não mais fazer sentido, os seus sonhos vão morrendo junto com
a sua vontade de acreditar. A força que há dentro de todos nós fica atordoada
com a impotência diante desse desfecho incrédulo da realidade. Fico aqui
pensando em como está o mundo, as suas ironias, as suas intangíveis verdades,
os becos obscuros de maldade, os bosques floridos da benignidade. Será que já chegamos ao nosso destino? Foi
para chegarmos até aqui que fomos criados? Na linha da evolução, estamos na
ponta inicial ainda, usamos a força, nos entregamos aos nossos instintos
primitivos, compactuamos com o que não queremos, não temos controle algum sobre
a morte, muitas vezes vemos, mas não enxergamos, escutamos, mas não ouvimos.
Não pode ser o fim. Não acredito que o ciclo da vida se encerre antes de passar
do começo. Ainda não aprendemos a amar o nosso semelhante como se deve, o
planeta ainda é um lugar sujo de se viver, assim não dá. Nem tivemos a chance
de morar em um lugar digno da criação de Deus.
Uma boa hora para refletir sobre o
tempo que não terei com o meu filho. Não o verei crescer, não poderei mostra-lo o mundo que eu
vejo, que eu vi. Não contarei as minhas infinitas aventuras, nem pegarei uma
onda ao seu lado. Esse fim não é justo. Deixarei as gargalhadas que daria junto
a ele ecoarem pela eternidade de um futuro que não aconteceu. Suas lágrimas se
assentariam no apoio dos meus ombros, onde o seu pranto lembraria onde mora a
segurança, se o tempo assim permitisse. Ele já sentiu o nosso amor, e por mais
que nossos olhos se cruzem pelo canal sublime da nossa ligação, eu precisaria
dizer em um abraço que o amo mais que tudo.
Lembrando do meu filho, vem a minha
cabeça o acontecido dessa semana em Newtown, nos Estados Unidos, onde um rapaz
perturbado atirou contra varias pessoas em uma escola, sendo que muitas eram
crianças. Estas foram atingidas por tiros de fuzil. Quando imagino a violência
que essas crianças foram mortas, eu fico na dúvida se esse prognóstico
realmente tinha validade. Um dia tocaram fogo em um índio que dormia no meio da
rua, outrora tiraram uma vida por causa de um cigarro. A vida não mais tem
valor.
Acho que o fim do mundo é carregado
dentro de cada um de nós. Nascemos com a luz, e muitas vezes deixamos as trevas
dominarem os nossos corações. Alguns lamentam por toda a fortuna que deixariam
no planeta, enquanto outros já sentem saudade das pessoas que ainda não foram
deixadas. Muitos desejam o fim. La no fundo. Talvez se todos morrerem ao mesmo
tempo, não se pareça covarde por querer isso. Mas a verdade é que a maioria não
aguenta mais viver no meio de tanta dor e sofrimento. Agente sente o cheiro
pairando no ar.
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